Pequenos mestres
Acordei com ele às turras pelo quarto. Aquilo não era desespero, apenas convicção. Entrou pela janela que fica aberta o verão todo e não estava a conseguir encontrar o seu caminho de volta à rua.
Era demasiado cedo quando o passarito me arrancou ao sono. Mas não me irritei nem indignei. Com toda a solenidade, após o capturar em imagem, abri-lhe outras janelas de oportunidade. Saiu num instante, o espertalhão. Voou feliz de regresso aos seus pares e ao seu mundo. E eu atirei-me em voo para a cama. Contudo já não dormi mais. Fiquei a divagar sobre o abrir de portas e janelas. E de novo chegou o amor: não se ama alguém prendendo-o junto a nós. Não se completa, não se potencia, não se faz feliz ninguém, fechando-lhe as portas e janelas. Só o inverso é real.
Não fosse a pequena ave e ainda estaria a dormir... Mas agradeci-lhe a sorrir aquele duplo despertar.
Ana Amorim Dias
14/9/2014
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