(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

A boa surpresa

A boa surpresa

Entrou na sala de triagem com mais de trinta e nove de febre. Instalaram-no de imediato numa maca e deram-lhe atenção, soro e medicação. A mim foram-me dando perguntas e espanto: aparentemente ter um filho com treze anos, setenta quilos e um metro e noventa, não é coisa que se faça. Tal facto, contudo, pouco tem de espantoso. O que me deixa admirada é o notável estoicismo com que os profissionais de saúde enfrentam tanto trabalho. O que me indigna é o mau uso de milhões de euros que, em vez de serem gastos na educação, saúde e tantos outros campos votados ao desastroso abandono, são usados para tapar buracos que impunes filhos da bosta deixam abertos. Mas isto não é nenhuma surpresa neste pedaço de mundo que tanto tem de encantador como de miseravelmente governado pela corja de bandidos intocáveis que se protegem mutuamente.
A surpresa, inversamente boa, é ouvir da boca do meu filho mais velho: "coitadas das pessoas todas que ficaram lá fora à espera, mãe...Espero deixar esta maca livre depressa para quem precise mais."

Ana Amorim Dias
(18/8/2014)

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