(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.3.14

Voos

Voos

Olhei para as estrelas e respirei fundo. O silêncio frio da noite fez-me sentir livre. Vi as luzes de um avião, lá no alto, e imaginei para onde iria. "Engraçado, os aviões "apanham-se" com data e hora marcadas... as estrelas não."

Há cerca de dez anos, recebi em minha casa uns grandes amigos da Colômbia. Durante os dias em que interromperam a sua longa viagem pela Europa, reforçamos a sensação de família que na realidade não somos. No fim da sua estadia, levei-os ao aeroporto (na altura a trinta e cinco quilómetros da minha casa) ainda de madrugada. Tinha-me deitado muito tarde e não me podia demorar porque tinha um julgamento nessa manhã.
Quando foram fazer o check in, vi o Luís, sempre tão organizado e composto, a ficar muito branco. Tinham-se enganado no dia: o seu voo era vinte e quatro horas mais tarde.
Ficaram tão aflitos com o transtorno que passaram o resto do dia a desfazer-se em desculpas perante o meu perdão ensonado.

Todos temos os nossos "aviões" para apanhar. Sabemos as datas e as horas, contudo às vezes perdemo-los e outras vezes chegamos tanto tempo antes que ainda não existe tal voo.
Será que tudo na vida se prende com questões de timing? Será que quem tem um faro mais apurado para a pontualidade age sempre na hora certa? Ou o não chegar demasiado cedo nem demasiado tarde é só uma questão de sorte?
Pelo sim, pelo não, sempre que tenho voos marcados, confirmo e reconfirmo a data e a hora, dando aos imprevistos generosas margens de tempo.
Mas, e os voos até às estrelas?... Bem, esses simplesmente
acontecem sem que seja preciso comprá-los nem fazer marcação prévia.

Ana Amorim Dias


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