(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.3.14

Sobre o poder e a vida

Sobre o poder e a vida

- Onde é que estava mesmo o coelho, mãe?
- Ali mais à frente, na beira da estrada.
- E não o mataste com o carro?
- Oh João! Claro que não, então eu era lá capaz de matar o bichinho!
- Dizes tu que tens "poderes"!...
A voz dececionada que proferiu aquele sarcasmo ativou-me a coerente e sentida reação.
- Meu amor: o poder nunca está em tirar a vida. O verdadeiro e maior dos poderes é preservá-la!

Enquanto estiveres a ler esta crónica, há pessoas iguais a ti a defender nas ruas os seus direitos mais básicos. Neste minuto há corações destroçados pela injustiça de tantas vidas ceifadas sem qualquer pudor. Nesta hora há milhares de cidadãos anónimos a arriscar-se a morrer em nome de um futuro digno. E a informação não chega inteira da Ucrânia. Não chega precisa da Venezuela. E da Coreia do Norte e de outros tantos países, nem sequer chega. Milhares (milhões?) de seres humanos como tu e como eu, com filhos e pais, amigos e amores, caem às mãos de déspotas inexplicáveis. Pessoas como tu e eu, com um passado e um futuro, com projetos e sonhos, vivem o horror indizível da opressão levada ao extremo.
Pouco ou nada justifica que gente mate gente.
Até podemos tentar compreender alguns conflitos entre nações. Mas como entender poderes instituídos que, em nome "da ordem pública" e do "bem maior", chacinam a sua própria gente? Nem no mundo animal é normal tal coisa, por isso como havemos de começar sequer a tentar entendê-lo no mundo humano?
Como chegam os déspotas ao poder? Que sortilégios macabros executam para lá se conseguirem manter? Como é que sociedades inteiras de gentes boas, que apenas querem viver em paz, se deixam enredar nestes dantescos e recorrentes episódios de despotismo assassino? Que espécie de terror é este que nem a abnegada coragem de povos inteiros consegue vencer? Talvez nunca encontremos resposta para isto. Talvez, na história vindoura do planeta terra, nunca se venham a esgotar os casos de terror imposto a milhões por algumas dezenas...

- E se fosse um coelho gigante assassino, mãe? Um que te quisesse comer? Também não o matavas?
- Isso não existe, amor!
- Está bem, mas e se fosse um urso?
- Fica descansado meu bebé: quem quer que venha para te fazer mal, terá que me enfrentar primeiro a mim!

É por isso que devemos apoiar quem se opõe aos ditadores do costume. Pelo nosso futuro e o dos nossos descendentes.
Mas, mais importante que isso, é estarmos atentos para impedir o surgimento de novos déspotas.
O verdadeiro poder jamais tira vidas. Preserva-as a qualquer custo.

Ana Amorim Dias

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