(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.3.13

Buracos

Buracos

O que será que leva um homem a pegar na sua mota e partir sozinho para uma viagem de volta ao Mundo?
Que estranha força, impulso ou apelo interior atira alguém para tal extremo?
Como se deseja tanto o que é, para tantos, indesejável? Como se concretiza uma quase total impossibilidade?
Muitos podem não entender as razões que movem pessoas assim. Podem até ser indiferentes a um feito tão magnífico, mas isso é quem não ousa voar sequer no espaço aberto dos sonhos.
- Quando for grande quero ser como tu! Mas sem as barbas nem o charuto na boca!-
Ele riu-se, do humilde cume de toda a experiência de vida: - Seul celui qui a emprunte la route connait la profondeur des trous- respondeu. - Só aquele que percorreu o caminho conhece a profundidade dos buracos.-
Éric Lobo, o escritor-fotógrafo-viajante-louco-aventureiro, guarda em si todos os buracos que a circum-navegação do planeta o obrigaram a passar. Buracos nas estradas, nas luvas, nos relacionamentos e na alma. Buracos feitos de paisagens menos belas percorridas com o desconforto extremo da neve, da chuva e de mil e um perigos. Buracos que lhe ficaram no coração ao ter que deixar para trás cada nova amizade conquistada sem esforço. O que não lhe ficou foi o mortal buraco de fugir do desafio.
Sim, decididamente. Quando for grande quero ser como o Éric. Mas sem a barba nem o cubano. Quero sentir nas costas todos os buracos de cada km percorrido. Quero ter as minhas luvas completamente esburacadas de tanto agarrar a vida. Quero o meu coração perfurado pelas setas da entrega dada a cada pessoa que amo. Quero ter uma alma que compreenda o mais profundamente possível a profundidade de cada buraco. Quero.

Ana Amorim Dias

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