(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.3.13

Cair do cavalo

Cair do cavalo

- Galopas a bom trote os caminhos infindáveis da tua mente - disseram-me - ... será das botas?-
O meu primeiro pensamento foi que não, não é das botas porque no Verão não as uso e galopo à mesma o inteiro puro sangue a que chamo "Vida".
Não conheço cavaleiro que nunca tenha caído do seu cavalo. Duvido que exista. Não conheço quem galope a bom trote o cavalo "Vida" sem que tenha sido cuspido várias vezes do seu dorso. Duvido que exista.
Quem vive a bom trote não pode ter medo de cair. Quem escolhe viver a equilibrar-se em montadas plenas, velozes, sob o sol ou a chuva, com o vento na cara, sabe que acabará por cair. Mas sabe também que subirá para o cavalo uma e outra vez, sem se importar com quantas vezes este o derrube. Sabe que só no dorso desse puro sangue fugaz encontrará o sabor verdadeiro de estar completamente vivo.
Já caí de verdadeiros cavalos como já caí também, uma e outra vez, do dorso da Vida. E é em cada queda que me levanto mais convicta de que a vou montar de novo, talvez com um outro ritmo; sabendo talvez agarrar-me com mais força às suas crinas, para que ela não tenha tantas hipóteses de tomar o freio nos dentes.
Mas hoje vou repousar o corpo na erva, com um trevo entre os lábios, enquanto olho para a paisagem que se estende para lá das minhas botas e chapéu. Hoje descanso porque amanhã é dia de montar de novo, rumo ao luminoso pôr do sol do meu destino.

Ana Amorim Dias

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