(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.3.13

Uma chuveirada na lingua

Uma chuveirada na língua

Com a água quente a descer sobre mim, rio-me às gargalhadas com a nova descoberta aquática.
Divirto-me tanto que agradeço uma vez mais a benção de me dar tão bem comigo e é nesse preciso instante que o fio dos pensamentos se começa a desatar.
Há pessoas que não conseguem sentar-se num restaurante e comer sozinhas; pessoas para quem é inconcebível ir a um cinema / museu / espetáculo sem companhia ou beber um copo apenas consigo. Isto faz-me confusão. Uma confusão enorme. É que o alimento ingerido, seja ele feito de nutrientes, arte, conhecimento ou sensações, tem que ser mastigado por cada um com os seus próprios dentes e sensibilidade; tem que ser digerido pelo seu interior e apreendido pelo núcleo das suas próprias células.
Que a catalização de tudo isto é muito mais eficiente se a ingestão dos momentos for partilhada com quem amamos, isso é inegável! Mas valerá a pena as pessoas privarem-se de se alimentar de vida por falta de companhia? Não, claro que não, sob pena de começarem muito rapidamente a ser intrinsecamente mal nutridas.
Continuo de boca aberta, a rir-me com um estranho riso pelas sensações que a chuveirada na língua me causa. Como se partilha isto com alguém? Como se cataliza melhor o "alimento" que um momento assim nos acrescenta à alma? Só me lembro de uma forma: esta.

Ana Amorim Dias

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