(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

3.3.13

No cume da montanha

No cume da montanha

- O que tens?-
- Nada.-
- Vá, diz lá. Não gosto de te ver assim.-
Continuei a bater na tecla do "nada" e ele a insistir na identificação das causas do meu acinzentado humor.
- Não estás alegre nem fazer disparates porquê?-
- Mas que raio! Uma pessoa não pode estar sempre nos picos da vida!-
O seu ar confuso convenceu-me e acabei por ir mais fundo, porque não?
- A minha vida é pouco emocionante, sempre igual! Estou aborrecida. A morrer de tédio!-
Abraçou-me, a rir às gargalhadas.
- Parva, queixas-te de barriga cheia!- e foi-se embora, tranquilo por já saber a resposta, deixando-me com um humor ainda um pouco mais escuro.
Não faço a mínima ideia se todas as pessoas sentem isto de tempos a tempos, mas há alturas em que a necessidade de estar no cume da montanha se apodera de mim e me esmaga numa falta de oxigénio interior que a alma quase asfixia.
Quando se escalam demasiadas montanhas pessoais e se passa muito tempo nos emocionantes cumes da vida, creio que se fica com um certo vício nas sensações de estar no topo do Mundo e viver sempre nos picos torna-se uma necessidade.
Analiso a conjuntura o melhor que posso e percebo três coisas:
- Subir até ao topo das emoções é fácil.
- Permanecer sempre lá é provavelmente impossível.
- Entender que não se pode viver constantemente em picos é fundamental para o equilíbrio emocional.
Mas a cereja no topo deste bolo meditativo apenas se materializa quando concluo que saber viver nos píncaros da emoção mesmo na vida normal é, nada mais nada menos, que o exercício prático da mais elevada sabedoria.

Ana Amorim Dias

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