(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

17.3.13

Mamã Ursa

Mamã Ursa

Costumava relacionar a expressão "fazer papel de urso" com atitudes apatetadas e pouco inteligentes. Mas creio que vou ter que reformular a associação.
Ando com esta fotografia guardada há uns tempos e, de cada vez que a olho, enterneço-me com as similitudes parentais entre espécies.
O meu filho João, à beira do oitavo aniversário, é dono de um corpo seco mas robusto, e de um peso que até aos meus fortes braços desafia. Além do mais, a férrea teimosia e consolidado mimo, levam-no muitas vezes a adormecer aninhado ao pai, numa cama que não é a sua. E então, quando ao início das madrugadas me tento deitar, apenas me resta fazer o transbordo daquele corpito de chumbo para os seus aposentos azuis. Não lhe pego com a boca, como faz a mamã ursa, mas o certo é que já não conseguirei fazer o transbordo durante muito mais tempo, a menos que me dedique seriamente à musculação.
Estou na vertigem de perder um dos mais saborosos tesouros que qualquer mamã ursa adora: tomar o filho adormecido nos braços e sentir toda a sua inocente confiança a render-se à nossa proteção.
É inegável que à medida que os filhos crescem muita coisa se vai perdendo e o terreno de proteção parental se vai tornando cada vez mais limitado. No entanto olho para a minha mãe e percebo: mesmo sozinha não traz um filho urso na boca...traz três! E renasce-me então o alento. Em breve não poderei carregar o João ao colo, mas não me importo. Sou como a maior parte das mães que são ursas para a eternidade e nunca largam o apatetado e mais belo papel que lhes é dado viver.

Ana Amorim Dias

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