(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

A escolha

A escolha

Nem acreditei quando aquelas palavras me saíram...
- Os sentimentos têm algo de matemático!
Ai vida, onde é que eu me estava a meter?
- Há denominadores comuns a todas as pessoas em certas situações.- prossegui.
- Então porque é que, perante o mesmo problema, uns sucumbem ao sofrimento e a outros passa-lhes ao lado?- perguntaram-me.
Aqui a resposta era óbvia. Usei-a.
- Simples: inteligência emocional! E esta resume-se a uma regra básica: "Eu posso escolher o que sinto."

Às vezes acho que sou demasiado dura com quem sofre. Mas depois lembro-me logo que há dois momentos em cada sofrimento. Digamos que existe a dor legítima, que podemos permitir-nos sentir, e a dor ilegítima, aquela teimosa, que já não faz sentido nem cura. E esta há que bani-la nem que seja a toque de chapadão. O sofrimento ilegítimo é perigoso porque é patológico e viciante; é vicioso até, na medida em que o usamos para inspirar a pena alheia sem saber que, no meio do processo, nos deixamos prender pelas garras do monstro da autocomiseração.
Ter pena dos outros é coisa feia. Mas ter pena de nós? É a maior agressão com que nos podemos ofender.
E depois vêm queixar-se de solidão. Pudera! A tristeza afasta mais que o mau cheiro, enquanto a alegria atrai os outros como borboletas à luz. Sim, é matemático! Deve ser por isso que dou prazo às minhas dores e as converto depois na força locomotora de uma evolução consciente. Deve ser por isso que dou um tempo às dores de quem me pede ajuda e depois, quando o sofrimento se torna ilegítimo, parto para os abanões verbais com uma certa dureza.

O mundo não gira em torno das dores de ninguém! As desgraças que se abatem sobre cada um são riscos inerentes à existência e não uma conspiração direcionada. E enquanto não percebermos que podemos de facto escolher o que sentimos, não seremos capazes de usar as cicatrizes interiores com a mesma alegria e beleza com que se pode envergar um sensual par de calças rasgadas.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário