(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

Oitos

Oitos

Pus-me a ver fotografias de mulheres motard na internet.
- O que estás a ver, mãe?
- Colegas, João.
- Ah. Mas algumas estão bikini porquê?
- Essas são as falsas, não são verdadeiras bikers, só estão aí para tornar as motas mais apelativas aos olhos dos homens.
Fomos passando as fotos e dizendo "esta é verdadeira" ou "esta é falsa". Depois mudámos para o YouTube e pusemo-nos a ver acrobacias de mota.
- Tu não vais fazer isto, está bem, mãe?
Comecei a rir ao lembrar-me dos oitos mal amanhados da aula de mota dessa manhã.
- Está descansado, meu anjo, a mãe nunca vai fazer isto.

Não tenho mesmo a mínima intenção de andar de mota em pé, nem virada ao contrário a fazer cavalinhos, nem sequer sentada no depósito da gasolina com as pernas sobre o guiador. De momento tudo o que me desafia são os oitos perfeitinhos, com o rabiosque bem assente no selim da mota.
Já percebi como se faz, tanto que já fiz alguns. Mas o domínio do equilíbrio e do jogo de embraiagem não são assim tão óbvios. É preciso respirar fundo e olhar não para o passeio mas para o ponto para onde queremos dirigir a viatura. É preciso confiar nos três dedos da mão esquerda e adiar ao máximo a cedência à tentação de colocar algum pé no chão. É preciso vontade e concentração. Depois consegue-se.
Acredito cegamente que, num futuro não longínquo, os oitos não guardarão perante mim qualquer mistério. Mas, enquanto os domino e não domino, encanta-me a sensação de desafio. Sei que, comparada com os magos das duas rodas, posso parecer uma patética naba. Mas também sei que as acrobacias com que diariamente brindo as palavras são o produto de algum jeito e, sobretudo, de muita prática e foco. O encanto disto tudo? É saber que, não desistindo, não há metas impossíveis.

Ana Amorim Dias

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