O som do amor
Entrei em casa e pousei a mochila. Ninguém. Resolvi ligar.
- Então? Onde andam? Já cheguei!
Fiquei a saber que o jogo de basquete do Tom se tinha atrasado.
Olhei à minha volta. Em pouco mais de vinte e quatro horas os "meus" três homens conseguiram deixar as camas todas por fazer, a cozinha inundada no caos, a sala virada do avesso e uma das casas de banho transformada em cenário de guerra.
O gato roçou-se nas minhas pernas com uma miadela queixosa. Alimentei-o, tomei um banho e, durante a hora seguinte, transformei aquele pardieiro num lar de harmonia. Depois fiz o jantar.
Quando estou fora mais tempo, a preciosa colaboração da Guazinha (nome com que o Tomás, em bebé, batizou a avó paterna) faz com que a ordem feminina continue a reinar mas, desta vez, como era tão curta a minha ausência, deixámos os três entregues ao seu feliz caos.
Quando entraram, ruidosos, em casa, por volta das oito da noite, entregaram-me uma prenda. Pu-la logo ao pescoço.
- É o símbolo do "Om"... - explicou o Ricardo com uma humildade amorosa repleta de significado.
Nessa manhã eu ligara a dar-lhe os parabéns.
- Parabéns? Porquê?
- Oh tontinho! Faz hoje vinte e quatro anos que começámos a namorar, por volta das oito da noite.
- Ahhhhh!! Parabéns!!
O "Om" representa, no hinduísmo, o som do Universo. É o primeiro dos mantras e a ponte para atingir todos os outros. Tenho, pendurado ao pescoço, o símbolo do som do Universo que, para mim, independentemente do caos ou da ordem, se resume simplesmente ao som sublime do amor.
Ana Amorim Dias
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