(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

Festivais

Ponderei ser irónica em relação a esta questão, mas até a ironia merece ser melhor usada. Terei que ser apenas, contra o que é meu costume, cáustica e arrasadora.

Pimba! Quando se pensava que o país já tinha batido no fundo, vem a canção (ou deverei dizer a ganidela?) vencedora do festival e traz-nos uma nova dimensão ao conceito de sofrimento nacional. Sei que a minha indignação talvez seja algo exagerada, tendo em conta a importância relativa das coisas mas, mesmo assim, só me apetece dizer palavrões.
Aquilo está tudo mal, sem ponta por onde se pegue. Nem o pimba de garagem consegue ser tão mau quanto este.
"Quero ser tua", grunhido por alguém de nome Suzy, vestida daquela maneira e com aqueles movimentos tão originais é, no mínimo dos mínimos, uma profanação ao sentido estético de um país que, embora em maus lençóis, continua a ter valores artísticos elevados. Qualquer mulher, por mais "cabeça no ar" que seja, deve saber que conjugar uma mini-saia a dar pelos pêlos púbicos, com um decote de meio metro quadrado, é a receita perfeita para lhe perguntarem "quanto é?", sobretudo se andar berrar "quero ser tua" para um objeto de fálicas formas.
E a letra? Rimar "brilhar" com "mar" e "beijar" com "amar", tudo em carreirinha, é tão básico que nem putos de cinco anos apostariam nisso. Mas a parte em que "paixão" vem rimar com "coração"? Caramba, genial!! Tivessem acrescentado também "amor" a rimar com "flor" e completava-se uma obra a ser recordada nos séculos vindouros!(Desculpa lá ironia, acabei por ter que te usar.)
Já os "uauauéuaué" e os "hohooooho", repetidos com insistência, devem ser para a malta não reparar nas desafinações da "artista" em cada subida de tom, e para distrair as atenções do facto de a letra não caber na patética melodia que de melódica nada tem.

Há muitas coisas que me entristecem neste maravilhoso país. Não havia era necessidade de se denegrir lá por fora toda a excelente arte de que somos capazes. Valha-nos o facto de já ninguém ligar a estes "festivais".

Ana Amorim Dias

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