(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

Excessos

Excessos

Eu estava recostada no sofá da sala de estudo à espera deles.
- Tomás, João! Não vos volto a chamar! - como se o meu tom ameaçador os assustasse muito.
O João lá apareceu, a aparentar tanta vontade como a de quem entra no consultório do dentista. Lá abriu os livros e começou a trabalhar. O Tomás é que nem vê-lo.
- João? Que cheiro é este?
- Parece perfume, mãe.
- Muiiito perfume! - comentei horrorizada.
E o Tomás apareceu, precedido por uma nuvem de bom cheiro de tal forma intensa que, à sua chegada, o ar se tornou irrespirável.
- Credo Tomás! Vai tomar banho!!
- Eu já tomei, mãe.
- Filho, essa quantidade de perfume é insuportável. Daqui a três minutos estamos todos cheios de dor de cabeça!
- Ai é??
Curiosamente o Joãozinho tinha-se alheado da conversa, demitindo-se de opinar com as suas valiosíssimas pérolas.
- Por favor Tom! Ouve-me bem e nunca mais te esqueças disto: nunca, jamais, em tempo algum utilizes mais do que duas borrifadelas de perfume.
- Ok, mãe.

Dei as instruções ao miúdo e, embora não lhe tenha explicado as razões do meu conselho, ele nunca mais se voltou a perfumar tão profusamente. Sinto, no entanto, que fiquei a dever a explicação de que nada de bom vem dos excessos e que há muito mais encanto no misterioso que no óbvio.
- Por muito bom que seja o cheiro, se for demasiado intenso afasta as pessoas. - explicar-lhe-ei esta noite. - Mas se o cheirinho for bom e discreto, vais atrair as miúdas para bem pertinho de ti, percebes?

- Mãe!!! Tu não devias ter escrito isto!- até parece que já o estou a ouvir, mais logo, depois de ler a crónica.
Vou sorrir e vou snifar o pescoço discretamente perfumado do meu teenager preferido. E ele vai-se render aos excessos dos meus mimos e dar-me a aprovação orgulhosa de sempre.

Ana Amorim Dias

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