(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

Ter pulso

Ter pulso

O João chegou à minha cama gelado. Aqueci-o com o meu corpo.
- Então, amor? Dormiu destapado?
Com os olhos fechados e um sorriso nos lábios, respondeu-me:
- Mãe, hoje sonhei com motas!
- Muito bem, meu amor!
Passei o resto do dia a lembrar-me do ternurento episódio e da minha entusiasta resposta. Há uns tempos, na mesma situação, eu teria começado a transpirar de preocupação, perante a perspetiva de vir a ter filhos motards. Agora penso apenas que terei de lhes dar melhores e mais experimentados conselhos, e que teremos que ir escolher bons capacetes, casacos com proteções, luvas e joelheiras.

Ocorreu-me também que talvez a expressão "ter pulso" tenha nascido sobre duas rodas.
"Oh Ana, sempre foste uma pessoa com pulso, porque é que não o és também a dar gás às motas?", perguntei-me assim que a analogia me apanhou de surpresa. Mas pus-me a pensar um pouco e concluí que ter pulso nem sempre é ser intransigente e levar tudo à frente para cumprir as nossas vontades. Ter pulso não é andar constantemente "a abrir", é saber sim moderar a velocidade das nossas atitudes por forma a respeitar tanto o nosso bem estar como o alheio.
Podemos ter pulso em relação a tudo e todos e devemos de facto fazer uso dessa capacidade para nos conduzirmos pela vida. O que convém não esquecer é que o mais amplo sentido de se saber "ter pulso", consiste tão somente em perceber o montante exato de pulso a usar em cada situação concreta.

Ana Amorim Dias

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