(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

Com devoção

Com devoção

Fiquei catatónica uns segundos. Não, não podia ser! Mas aparentemente era verdade que, e passo a citar: "Francisco Javier Martinez, arcebispo de Granada, Espanha, deu conselhos às mulheres crentes para evitarem cair em pecado ao praticarem sexo oral com os seus parceiros." Segundo ele, "as mulheres podem praticar fellatio com os seus maridos sempre que eles pedirem. Mas, quando o fizerem, devem pensar em Jesus para não se tornarem pervertidas."
Lembrei-me logo daqueles decretos-lei que impõem proibições só para as poderem levantar mediante o pagamento de valores monetários. E claro, veio-me também à lembrança o velho chavão do "Ajoelhou, tem que rezar."
Ao recuperar do choque, quando o cérebro voltou a funcionar normalmente, percebi que se nunca os homens laicos saberão o que passa pela cabeça de uma mulher ao "orar de joelhos", muito menos um que pertença ao clero terá capacidade para sequer o imaginar (quanto mais para dar instruções quanto ao que devem pensar).
Por outro lado perguntei-me se não terá ocorrido ao senhor arcebispo que talvez possa, com estas afirmações, ter aberto caminho para a esquisita situação de converter Jesus num sex symbol. Estranho. No mínimo. Porque Jesus continua a ser, tanto para crentes como não crentes, um exemplo fantástico de humanidade e bondade, não tendo por que estar no pensamento feminino em situações onde não é chamado.
O que os membros do clero fazem, na sua intimidade, desde que não prejudicando ninguém, não nos dizem respeito. E era bom que alguns, antes de debitarem disparates, percebessem que no mundo laico há muitas coisas que acontecem sem pecado ou perversão, no simples contexto da devoção amorosa. O problema é que fiquei com vontade de lhe ligar a perguntar em quem devem pensar os homens, na situação inversa...

Ana Amorim Dias

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