(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.3.14

O brinde

- Sabem porque é que eu adoro estar com vocês?
E nem esperou pela resposta.
- Porque consigo ser mesmo eu. Verdadeiramente eu.

Não estavamos todas juntas, debaixo do mesmo teto, há uns dezoito anos, desde o tempo em que partilhavamos residência na época da faculdade.
Não é que tenhamos estado todos estes anos ausentes da vida umas das outras, nada disso. Mas assim, com um tempo só para nós, nunca tinha acontecido.

Suspendi a minha atenção à conversa e tentei reunir mentalmente o máximo de situações possíveis que me pudessem revelar se normalmente eu sou sempre eu.
Tenho ideia que, se é verdade que somos, na essência, sempre a mesma pessoa, também não é mentira que interagimos de maneiras diferentes com as diferentes pessoas com quem lidamos em todas as "personagens" que encarnamos.
Até que ponto somos sempre verdadeiramente nós mesmos? Onde se situa a fronteira entre a fidelidade constante à nossa essência mais intrínseca e a cedência a quaisquer outros valores?

Olhei para estas três mulheres que há tantos anos fazem consistentemente parte do meu universo. Sorri orgulhosa: quanto ao facto de eu ser verdadeiramente eu, esteja com quem estiver, isso é inegável e imutável. Mas percebi naquele momento que o que me dá mesmo um prazer indescritível é saber fazer com que os outros sejam muito fieis a si próprios sempre que estão ao meu lado.

Ana Amorim Dias

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