(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

26.9.11

O bilhete

Ontem sabia que tinha que ir para o escritório.  Estava inquieta, como se algo estivesse para acontecer. Estranhei  a compulsão por tanta arrumação, em particular tendo em conta que se tratava da organização de papeis que não me atraem grandemente.  
  Acabei por me envolver numa daquelas arrumações em espiral nas quais, sem darmos conta, estamos a organizar coisas que em nada se prendem com aquilo que,  inicialmente,  temos em vista fazer.
  A certa altura já estava noutra divisão, a pegar numa caixa de papel sem qualquer interesse , cujo conteúdo só verifiquei  por descargo de consciência, antes de “espetar” com ela no lixo. Imaginem o meu espanto quando, bem no fundo da caixa, me deparo com a lindíssima letra do meu pai num pequeno envelope pardo: “ Para a minha Ana” dizia.
  Sentei-me no chão. Estava pronta para o ler.
Tirei do envelope um pequeno cartão de agradecimento impresso com uma única palavra: “Obrigado”…
  No verso pude ler:
“ Faro, 10/03/2004
Ana:
Por haveres sido e continuares a ser o que ÉS,  muito obrigado!
Continua!...
João Manuel”

  Continuei sentada  no chão algum tempo,  a contemplar aquele tesouro que o acaso me devolveu. Chorei. Ri. Ri-me a chorar e chorei a sorrir.
  Não sei o que fiz para merecer estas singelas palavras que, a não serem sentidas, jamais teriam sido escritas.  Mas sei que o que nos reconcilia sempre com a vida… e com a morte… é a consciência de termos sido verdadeiros e de nos termos entregue com essa verdade.
  A “ chegada” de mais este “sinal” nada tem de estranho ou transcendente, foi apenas um bilhete esquecido no devir dos dias que o acaso trouxe de volta…   A transcendência deste bilhete/tesouro, passa por esta crónica na qual quero partilhar convosco que cada pequeno gesto que façam hoje, pode vir a ter, no futuro,  o mais avassalador dos sentidos e conferir supremos poderes a alguém que amem.
Love you dady!
Ana Dias

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