Todos vivemos em dois mundos. No real, em que a vida passa a correr, entre mil obrigações e pouco tempo para nós; e no mundo dos sonhos em que a vida é perfeita e sem a mais pequena das falhas.
O mundo real é feito das correrias diárias para não chegar tarde ao trabalho; feito dos gritos dos miúdos a lutar pela nintendo enquanto espalham migalhas de bolo pelo banco de trás do carro; é composto pelas críticas dos pais e a incompreensão dos filhos; o mundo real são contas para pagar e férias adiadas; é a falta de companhia por parte da nossa cara metade e são os sonhos que deixámos para trás porque havia sempre algo ou alguém a precisar mais de nós do que nós.
Mas o mundo dos sonhos também existe, vindo à luz a cada momento em que, depois de gastarmos o corpo e o espírito com tudo o que nos rodeia, nos permitimos um momento para nós, em que voamos para aquela ilha deserta com a nossa paixão, longe de pais intrometidos e filhos ladrões de tempo. Partimos para longe do trabalho já sem graça, das consultas do dentista e de tudo o que há sempre para fazer numa casa. Nesse momento só nosso, pensamos como seria se o sonho tivesse nascido: se o cantor que há em nós tivesse ficado famoso ou se o livro que não escrevemos fosse argumento de um filme. Perguntamos onde está o par com que sonhámos, que faria de nós o mais amado dos seres. E, sonhando mais um pouco, imaginamos a vida diferente, sem trânsito nem jantar para fazer enquanto ajudamos as crias com os trabalhos de casa… e imaginamos a mesa posta e com velas, numa varanda junto ao mar, ouvindo uma doce melodia a acompanhar a louca paixão que sentimos. Vemo-nos com uma carreira de sucesso, felizes com o que fazemos, tendo o tempo e o dinheiro para realizar outros sonhos…
Mas esse momento acaba porque a guerra pelo comando da tv voltou e é preciso deitar os miúdos e descongelar os bifes para o jantar de amanhã enquando respondemos a duas chamadas de trabalho. Sentimos que o momento se foi, com um amargo na boca porque a vida nos traiu: porque os filhos e a cara metade não são bem os poços de virtude que esperavamos que fossem; porque sentimos a culpa de um casamento que não funcionou ou porque o trabalho que temos nada mais é que a garantia do nosso sustento.
Mas a verdade é só uma: não há impossíveis. Enquanto acreditarmos em nós mesmos e nas nossas capacidades, podemos tudo! Podemos realmente tudo! E não são só os exemplos de velhinhos a atirarem-se de pára-quedas, ou mulheres de meia idade a catapultarem-se para a fama em concursos de tv que nos devem inspirar! Afinal cada um de nós tem mais capacidades do que alguma vez sonhou ter: basta recordarmos todas as situações em que nos superámos a nós mesmos e nos surpreendemos com a força que não sabíamos possuir…
Como pudemos, então, fugir dos nossos sonhos? Quando é que isso aconteceu? Que autoridade temos para nos julgar a nós próprios, dizendo que não somos capazes; pensando que o nosso tempo já passou? Porque razão não acreditamos que podemos tudo quando a nossa realidade é feita da prova de que conseguimos muito mais do que tudo?
É preciso recuperar os sonhos, os nossos mais ambiciosos sonhos, para a secção das possibilidades. Podemos começar por fazer o jantar a ouvir a nossas músicas preferidas no mp3, isolando-nos dos selvagens seres a quem tanto amamos, e partir na (re)descoberta dos nossos sonhos mais loucos. Podemos avançar um pouco mais e faltar uma tarde ao emprego só para olhar para o mar e sonhar um pouco mais. Até que nos acaba por chegar a luz da concretização; até que o sonho começa a ganhar vida própria e a tornar-se real no nosso interior. Chegando aí, meio caminho está percorrido. É fundamental acreditar!
E é possível usar os maus momentos para dar nova vida aos sonhos; ver um divórcio ou um despedimento, não como o fim de uma etapa, mas como novas portas a abrirem-se no horizonte das nossas expectativas.
Temos que acreditar que somos capazes; que temos em nós tudo o que é preciso para lutar pelo que sonhámos e que chegará o dia de apreciarmos o doce sabor da nossa (grande ou pequena) conquista. E temos que perceber que o dia de hoje é uma altura tão oportuna como qualquer outra para começarmos a devolver a nós próprios o sonho impossível. É a altura certa para começar a traçar um plano; para começar a acreditar. Porque enquanto acreditarmos, não há mesmo impossíveis!
Ana Dias
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