(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

26.9.11

A força de um olhar

 Um olhar, um simples olhar, pode por vezes encerrar em si o maior dos poderes.  E se  a sabedoria popular diz que os olhos são o espelho da alma, o que dirá das emoções que eles encerram?
  E porque acontece, tantas vezes, que as pessoas se falem sem se olharem? Teremos medo que o olhar nos traia, transmitindo ao nosso interlocutor que não sentimos realmente o que estamos a dizer?  Porque não olhamos  os outros nos olhos?  Será esse acto uma entrega demasiado íntima?  Estaremos a desproteger-nos com tal contacto?
   Quantas vezes olhamos directamente nos olhos da pessoas a quem falamos, conhecidos ou desconhecidos? Quantas vezes sustentamos as nossas palavras com a sinceridade do olhar?
  Ao longo de uma simples manhã podemos falar com inúmeras pessoas:  familiares,  colegas, a senhora do café ou o carteiro. E, de cada vez que falamos, (ou ouvimos) será que realmente os olhamos?
  O que será que tanto nos assusta, para que fujamos do mais natural dos contactos? É sabido que o olhar tanto pode encerrar em si bençãos indescritíveis como as mais temíveis ameaças. Um olhar ternurento ou agradecido pode manter-nos a sorrir durante muito tempo e um olhar de raiva leva-nos ao pior pesadelo. Se recebemos um olhar de medo, a superioridade que nos faz sentir vem com um sabor amargo; se o olhar é de admiração, o ego sobe-nos a inacessíveis cumes e, se é de pura tristeza, inspira-nos a piedade.
  Tão poderoso é o olhar. Se sustenta as nossas palavras, dá-lhes redobrada força, mas se as trai, rouba-lhes todo o valor. Porque os olhos não mentem. E são o espelho da alma.
   E o que acontece se, ao longo dos nossos dias, nos forçarmos a olhar? E se nos cruzarmos com quem connosco partilha a vida e os olharmos nos olhos, logo pela manhã?  E se, ao pedirmos o galão e a torrada,  o fizermos com um olhar de sorridente simpatia? E se o bom dia dito aos colegas for realmente desejado e subscrevermos a banal afirmação com o mais genuíno olhar?
   E se procurarmos o olhar alheio, sustentando-o, para nos fazermos ouvir com verdadeiro sentido? Que consequências trará tão gigantesca ousadia? Atrevo-me a antecipar resultados assombrosos. Estamos de tal forma habituados a não usar o olhar que lhe esquecemos o poder.
  E atrevo-me a deixar o desafio… De comunicar não só com palavras, mas com a mais fenomenal ferramenta. Aquela que deixámos de usar pelo medo de nos darmos e, acima de tudo, pelo receio de receber. Desafio-nos a olhar. Olhar nos olhos e sustentar esse olhar. Dando  um bocadinho de nós; do nosso carinho, agradecimento e verdade; dando um pouco do nosso íntimo. Desafio-nos a olhar e esperar, enquanto olhamos, pelas vindouras bençãos….
Ana Dias

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