(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.2.14

Liberdade de expressão

Liberdade de expressão

Desconfio que, para quem escreve, há algo que consegue ser ainda pior do que a indiferença e as críticas negativas: a limitação da liberdade de expressão.

Ontem ao jantar, enquanto debatíamos uma ocorrência fantástica que se deu na Quinta e alvitrávamos justificações para a mesma, foi-me pedido que não escrevesse sobre o tema. A sogrinha defendeu o seu caso e o Tomás apoiou-a. O Ricardo votou no "escreve" e o João nada disse, mais preocupado em enfardar a comida para poder ir ver os desenhos animados.
Arrumei a cozinha entre a criação cerebral da crónica (que linda ficaria...) e o dilema de ceder ou não às pressões daqueles dois seres que, quando se unem, formam uma poderosa força.

- Mãe! Tu não vais escrever sobre aquilo, pois não?- perguntou esta manhã o Tomás.
- Oh baby!! Vá lá...
- Mãe! Vou ficar chateado contigo. Olha que quando sair da escola eu vou ler o que escreveste!
- E eu bloqueio-te!- exclamei, a rir.

Jamais bloquearia o meu filho. Do que quer que fosse! E, muito embora me custe ceder a pressões que me limitam a liberdade de expressão, confesso que entendo as suas razões. Às vezes há que ceder às vontades daqueles que amamos, mesmo que isso implique penhorar valores que são, para nós, supremos. O amor vale isto tudo. Ainda assim avisei que apenas lhes estou a dar alguns dias de tréguas e que vou entrar oficialmente numa semana de negociações intensas para ganhar o legítimo e justificado direito de escrever sobre o encantador acontecimento que apenas estão a tentar proteger. O que vos posso garantir é que passei mesmo a acreditar nos impossíveis e acho que nem vou estranhar muito se, um dia destes, olhar para o céu da Quinta e vir a descerem, de pára-quedas, algumas girafas e hipopótamos.

Ana Amorim Dias

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