Liberdade de expressão
Desconfio que, para quem escreve, há algo que consegue ser ainda pior do que a indiferença e as críticas negativas: a limitação da liberdade de expressão.
Ontem ao jantar, enquanto debatíamos uma ocorrência fantástica que se deu na Quinta e alvitrávamos justificações para a mesma, foi-me pedido que não escrevesse sobre o tema. A sogrinha defendeu o seu caso e o Tomás apoiou-a. O Ricardo votou no "escreve" e o João nada disse, mais preocupado em enfardar a comida para poder ir ver os desenhos animados.
Arrumei a cozinha entre a criação cerebral da crónica (que linda ficaria...) e o dilema de ceder ou não às pressões daqueles dois seres que, quando se unem, formam uma poderosa força.
- Mãe! Tu não vais escrever sobre aquilo, pois não?- perguntou esta manhã o Tomás.
- Oh baby!! Vá lá...
- Mãe! Vou ficar chateado contigo. Olha que quando sair da escola eu vou ler o que escreveste!
- E eu bloqueio-te!- exclamei, a rir.
Jamais bloquearia o meu filho. Do que quer que fosse! E, muito embora me custe ceder a pressões que me limitam a liberdade de expressão, confesso que entendo as suas razões. Às vezes há que ceder às vontades daqueles que amamos, mesmo que isso implique penhorar valores que são, para nós, supremos. O amor vale isto tudo. Ainda assim avisei que apenas lhes estou a dar alguns dias de tréguas e que vou entrar oficialmente numa semana de negociações intensas para ganhar o legítimo e justificado direito de escrever sobre o encantador acontecimento que apenas estão a tentar proteger. O que vos posso garantir é que passei mesmo a acreditar nos impossíveis e acho que nem vou estranhar muito se, um dia destes, olhar para o céu da Quinta e vir a descerem, de pára-quedas, algumas girafas e hipopótamos.
Ana Amorim Dias
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