(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.2.14

Chaparros irrequietos

Chaparros irrequietos

Descobri esta pérola ontem, escrita numa folha de papel que se encontrava perdida no meio de tralhas que andei a arrumar. Tive que me sentar para descansar das gargalhadas. Tenho quase a certeza que esta obra prima foi escrita numa aula de direito constitucional dada pelo Prof. Jorge Miranda... Era já o instinto a fugir para o seu território.
O texto foi revisto e corrigido por forma a respeitar o novo acordo ortográfico alentejano. Divirtam-se!


"Era segunda-fêra. Era de manhã e ê tava já derreado. O esforço de me levantar ao mêio dia deixara-me o cérebro em papas, mas o stress de um detetive alentejano tem de ficar pendurado no cabidi como se fora uma samarra esperando os gélidos dias de inverno.
O mê escritório fervilhava de vida, por causa de um livro que escorregara da estanti e caíra ao solo com grande estrondo, alevantando uma nuvem de pó ao seu redori.
Após me refazeri do sobressalto em que acordei da pequena sesta de antes do almoço, qual nã foi a minha pasmação ao ver um envelopi debaixo da porta.
Fiquei pensando naquilo até às quatro da tardi, enquanto ia mordiscando uma sande de torresmos. Por fim tomei uma decisão que só os mais valentis tomariam: alevantê-mi para apanhar a dita carta e comecei a lê-la.
Era já noite cerrada quando tomei conhecimento que o problema era realmente gravi. A missiva rezava desta manêra: "Alguém anda a mudar os chaparros de sítio!"
Alguma coisa tinha que ser fêta. Era imperativo agir de imediato, o Alentejo nunca mais seria o mesmo se deixássemos que isto acontecessi.
Decidi fazer turnos comigo mesmo para vigiar os pobres dos chaparritos: das oito da noiti às quatro da madrugada, eu dormiria e, se a essa hora acordasse, olharia em redori e tornaria a adormeceri. A canseira foi tã grandi que devo ter perdido os sentidos e quando dei por mim já tinham passado quatro dias e havia grupos organizados de genti a procurar-me planícies afora!
Resolvi o caso por ter percebido que o bilhete tava assinado pelo Zé Aguardenti, o principal bêbado da aldeia. Os dias andavam tã ventosos e a pinga tã forti, que o pobre homén pensou que alguém andava mudando os nossos chaparros de sítio!
Vá lá que tudo terminô bein e ê salvê de novo o mê querido Alentejo!"

Ana Amorim Dias



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