(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.2.14

Dá-los ao mundo | Dar-lhes o mundo

Dá-los ao mundo/dar-lhes o mundo

- Fogo, mãe!...
- Já te disse que vais chegar a horas ao teste de matemática!
Eu tinha-me esquecido do telemóvel em casa e isso roubou-nos quatro preciosos minutos.
- Oh pá...- continuou a lamuriar-se.
- Atualização de horário, filho: vais chegar com um minuto de atraso, mas a professora ainda vai estar a distribuir os testes quando te sentares.
Senti-o nervoso e lembrei-me de uma frase, que lhe repeti:
- Filho, relaxa! A pressão é para os pneus! Acalma-te e concentra-te. Não precisas de mais nada.- "Só de estudar mais", acrescentei em pensamento...

São frequentes as críticas a quem expõe os filhos nas redes sociais. "Não se apercebem do perigo?", "Jamais mostraria fotografias dos meus filhos aos milhões do mundo inteiro.", "são o meu bem mais precioso", "tenho que os proteger"... Li recentemente algo do género e, por uns segundos, entreguei-me ao ato de julgar, atividade à qual me obrigo constantemente a fugir. Forcei-me ao exercício interior das "mudanças em ponto morto": é essa a mudança interior que devemos meter quando o julgamento ao próximo nos invade. Cada um tem o direito de pensar e agir como quer, mas que isso se faça em "ponto morto", sem julgar.

Vamos então por partes.
Os nossos filhos são, pela ordem natural das coisas, os detentores do nosso mais forte e incondicional amor.
Os nossos filhos estão no mundo. Entre milhões de pessoas. Habitam a sua casa, a sua escola, a sua terra, o seu país, o seu continente.
Os nossos filhos são seres sociais, que se relacionam, vivem, aparecem, pertencem a grupos e estabelecem laços e relacionamentos sem uma carapuça enfiada na cabeça, certo? Andam pela rua e toda a gente os vê. Um dia, assim a vida o permita, serão cidadãos do mundo, a deslocar-se por ele sem medo que todos os outros seres humanos lhes queiram fazer mal. É para isso que lhes ensinamos a relacionarem-se, a protegerem-se e a confiar sem serem estúpidos.
Os nossos filhos não são o "bem mais precioso", são pessoas que tentamos encaminhar numa construção pessoal que se quer sólida e confiante.

Devíamos ter a absoluta consciência de que nunca poderemos proteger os nossos filhos de tudo. A verdade é que os braços da proteção que lhes podemos efetivamente dar são quase tão curtos como os nossos braços reais.
A melhor maneira de proteger os nossos filhos? É dá-los ao mundo. É dar-lhes o mundo. E é entendermos, o mais depressa possível, que lhes devemos fomentar as "armas" para que se saibam proteger a si mesmos!

- Confia em ti!- disse ao Tomás quando o deixei à porta da escola, um minuto depois do toque de entrada.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário