(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.2.14

Desculpa lá, mãe

Desculpa lá, mãe!

Se a coragem é medida pela intensidade dos medos que superamos, concluo que não estou, nesse campo, mal servida. Para muitos, manejar uma mota é tão banal como ir ao café. Mas para mim? Bem...para mim este bébé japonês é, de momento, o meu Gigante Adamastor pessoal. Contudo, virar as costas ao bicho e fugir apavorada não me parece uma opção.
Dizem que a vida começa aos quarenta e quero estar preparada. Já adoro viajar sozinha, faço ski, bodyboard, e até ando a ver se dou uns toques no surf. Já dou palestras, faço diretos na televisão com toda a serenidade e enfrento situações complicadas com o prazer de quem toma a recomendada dose diária de adrenalina. Já superei coisas que temia muito com a graça de quem acaba de regressar das labaredas do inferno a sorrir e, caramba, pari dois filhos sem epidural! Não é esta bébé japonesa nem a outra, a grande, que vou ter que domar a seguir, que me vão fazer vacilar.

- Sabes, Ana?- disse o Rodrigo a sorrir.- És a primeira pessoa que estou de facto a ensinar a guiar uma mota. Os outros todos já cá chegam a saber. E posso dizer-te: é muito gratificante.
Sim, porque eu não sabia de que lado se baixava o descanso e pensava que, para acelerar, o punho direito rodava para a frente!
Não tenho qualquer pudor em dizer-vos que a primeira aula foi passada em primeira (deve ter sido por isso que não me consegui equilibrar lá muito bem) . Não meti mais mudanças que o neutral e a primeira! Se me envergonho? De maneira nenhuma: hei-de aprender até usar só o instinto que nasce da prática. Hei-de encontrar o que procuro: o prazer e a liberdade que chegam com o domínio e a confiança!

Desculpa lá mãe! Desculpa-me a irrequietude que a idade não sabe abafar. Desculpa as novas preocupações. Mas sabes que sou cautelosa e que tenho em mim ferramentas para enfrentar novos perigos. Desculpa-me a determinação e a sede de liberdade. Desculpa-me querer sempre mais, de mim e da vida. Lembra-te que tenho pernas compridas e fortes e que nunca amei velocidades. E não te esqueças jamais que sou filha do meu pai, e esse acompanha-me sempre, soprando ao meu ouvido tudo aquilo que sabia...
Não sei se tomarei sob mim uma máquina japonesa, inglesa ou americana. Sei que de momento, esta bébé que respeito, me devolveu a humildade e refreou o ego de quem pensa que tudo é fácil. E se isto não é extremamente enriquecedor para o meu crescimento emocional, não sei o que mais o seja.
Por tudo isto, mãe, e por outras coisas que te continuarei a mostrar, desculpa mas vou fazê-lo!

Ana Amorim Dias

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