Segunda-feira de sonho
Abri os olhos. Espreguicei-me. Estiquei o braço para alcançar o IPad e vagueei uns minutos por aqui.
"Segunda-feira mais deprimente? Hoje? Mas porquê? O dia estará cinzento? Mas é normal, é inverno. Ah, talvez seja por estarmos na altura do ano mais distante do verão..."
Quem determina, afinal, o sentimento dos dias? Por que critérios se regem? Seremos eternamente prisioneiros dos desígnios da carneirada? Ou temos a sempre presente capacidade de escolha?
Um banho. "Acabou-se-me o amaciador para o cabelo. Vai ficar uma coisa gira. Isto é a maldição de segunda-feira..." Ri-me com sarcasmo.
Vesti-me. E estava a fazer a mala quando o despertador tocou para não me deixar atrasar para a entrevista das dez. "Podia ter dormido mais um pouco, mas já estava a perder algo."
Desci para o farto pequeno almoço dos bons hotéis. Uma panqueca no prato. "Mel ou açúcar?" E de repente lembrei-me que seria estúpido escolher vinagre, por exemplo. "Porque é que as pessoas escolhem começar a semana com sentimentos de vinagre se podem escolher mel ou açúcar?"
"Tenho que me despachar para entrevista com o Eric e com o Hugo que, se calhar, já me esperam lá em baixo." Daqui a pouco cada um irá para seu lado. O biografado, para o Sul de França; a biógrafa para o Sul de Portugal. Regresso ao ninho dos meus outros três heróis. Regresso à frenética e imparável odisseia diária de matriarca que não descansa um segundo porque os sonhos implicam um trabalho sem tréguas. E as segundas feiras são sempre uma altura ideal para recomeçar com a energia mais colossal que conseguirmos arranjar.
Comi a panqueca com mel. Jamais escolheria vinagre. "Segunda-feira mais depressiva?" Ri-me de novo. "Só para quem a escolher assim. Para mim é só mais uma segunda-feira de sonho(s)."
Ana Amorim Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário