(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

22.1.14

Saber a letra de cor

Saber a letra de cor

Eu abanava-me toda, enquanto ia fazendo o jantar. Já não sei qual era a música que a aparelhagem tocava, mas eu cantava com a convicção de quem se crê em pleno palco.
- Oh mãe, se já sabes a letra de cor, para que é que estás a ouvir isso?
Pimba, o estupor do miúdo pequeno tem que me baralhar sempre as ideias. Como não me saiu resposta pronta, reservei a frase cá dentro, no cantinho cerebral dos temas por explorar.

Hoje regressei à consciência com a sensação de ter passado a noite inteira a sonhar. Não consegui lembrar-me dos sonhos mas não me importei. Sei que foram bons. Apeteceu-me um banho no mar: há já quase dois meses que não me entrego ao seu chamamento, que eternamente em mim mora. "Vinte e seis de Janeiro..." pensei, "no ano passado, o primeiro banho foi a vinte e seis de Janeiro". Ponderei fazê-lo hoje. Cá no sul não há vento e o sol brilha. "Nááh... Fica para outro dia, para quando não aguentar mais as saudades!"

Há chamamentos interiores que moram eternamente em nós, da mesma forma que há sonhos que sempre nos acompanham. E então, ainda deitada na cama, lembrei-me do comentário que o João fez ao ver-me ouvir uma música que eu já sabia de cor. Há sensações que conhecemos de cor, mas a que nos entregamos sempre como se da primeira vez se tratasse. "Em breve, mar, em breve mergulharei em ti e até talvez leve a prancha!"

Ana Amorim Dias

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