(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.10.13

Para nos lembrar

Para nos lembrar

Quando me apercebi, aquele telefonema já não era apenas o breve momento em que ela me perguntava pelas novidades.

- Ai, Ana! Fico tão feliz! Ainda bem que pude ajudar.- disse-me, toda contente.
Conhecemos-nos desde miúdas e, embora longos períodos passem sem que as nossas vidas se cruzem, não quer dizer que não se toquem. E que não nos emocionemos com isso.
Avançámos para o habitual mar de disparates, piadas e gargalhadas em que tão bem nadamos juntas... até que a conversa ganhou novos rumos, como que com vida própria.
- A melhor maneira de começares a arrebitar, querida, é perguntares a ti mesma: "Como quero que seja a minha vida?", "qual é a minha missão?"- disse-lhe eu.
- Pois. Isso eu ainda não descobri...-
- Nem tu nem oitenta por cento da população mundial. Por isso não fiques triste. Mas também não desistas da busca...-
- E tu, Ana? Como queres a tua vida?-
Rompo em gargalhadas. Como começar a explicar-lhe??
- A minha grande vantagem é saber isso com uma nitidez de alta definição! Quero escrever e emocionar-me, escrever e emocionar-me, emocionar-me e escrever!! Quero poder fazê-lo e partir por aí, pelo mundo, tendo sempre para onde voltar; quero conhecer muita gente porque é esse o meu barro; trabalhar com pessoas despertas e criativas... O que me move não é o dinheiro, e muito menos a fama. Mas batalho todos os dias por conseguir habitar, cada vez mais, numa vida emocionante e repleta de novas experiências.-
Nesta altura já não conseguia parar. A grande vantagem de ter interlocutores inteligentes é o facto de nos desafiarem a descobrirmos-nos enquanto falamos.
- A verdade é simples, Diana: ser rico não é ter muito dinheiro, é viver os dias todos como se fossem a realização dos nossos mais incríveis sonhos; é ter a força anímica de lutar para que assim seja; é desejar aprender sempre mais, conhecer sempre mais. E, se me perguntares, a pobreza mais profunda é a da imobilidade. Quem se rende ao desânimo, à inércia e à falta de curiosidade, pode ter todo o dinheiro do mundo mas é como se já estivesse morto... -

Bastante tempo depois, ao desligar o telefone, prometemo-nos voltar a falar em breve. E eu prometi-me lutar por nunca esquecer que estou aqui para nos lembrar...

Ana Amorim Dias

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