(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.10.13

Horário de voo

Horário de voo

Domingo. Dez da manhã. O Gordon Haskell canta-me "al capone" diretamente aos ouvidos para abafar o som dos cartoons com que os putos se entretêm, a "jiboiar" no sofá.
Estou a trabalhar no computador desde as oito e pouco. Tenho sono mas ignoro-o. Olho pela janela. Perco-me no verde banhado pela luz do outono. Perco-me na graça que vejo nos irónicos episódios com que os dias nos presenteiam...

- Já decidi: vou definir o meu horário de trabalho. Por exemplo, das nove às cinco, como qualquer pessoa normal, e depois fico livre!-
- dizia-me, ontem, o Ricardo.
- Pois, somos ambos livres de o fazer, realmente... Mas como se pode espartilhar o horário de voo de um pássaro?...
- É uma simples questão de organização, Ana.-
- A vida é tua, o horário é teu, acho bem. Quanto ao meu, não posso nem quero alterá-lo: desde que acordo até que adormeço!

- Baixem o som da televisão, não volto a repetir!!-
A música do iPad também me está a irritar. Noto que o vidro está sujo. "Admite, Ana: estás com birra de sono!"

Ele entrou no quarto um pouco depois das duas.
- Não chega, já?- perguntou cuidadosamente, para não despertar a fera que por vezes nasce em mim quando me arrancam do limbo da criação.
Ignorei. Continuei. Não me apetecia parar. "Dormir é para os fracos".

Volto a olhar pela janela. Várias aves bailam, completamente felizes, por entre suaves sopros de chuva.
"Não se pode condicionar o voo das aves livres, mas elas quando têm sono, dormem, Ana!"

Ana Amorim Dias



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