(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.10.13

One way ticket

One way ticket

O destino não é longínquo. Nem sequer muito exótico. Não deixa a antecipação entusiasta da excitação, mas não deixa de ser interessante (quando "embarcamos" no/com o espírito certo, tudo pode revelar interesse).
Como tornar, então, uma primeira ida a Marrakesh, numa experiência um pouco mais desafiante e enriquecedora? Ir na companhia de alguém leve, divertido, minimalista, e de espírito aberto. E ir sem data nem bilhetes para um regresso que será, em si mesmo, a viagem. Não sei quando volto, nem como, nem por onde. Nem me importa.
E isto leva-me à questão da preparação. Segundo o meu pai, por exemplo, as viagens têm que ser preparadas, estudadas, planificadas ao máximo. Eu costumava achar o mesmo. Mas fui descobrindo que o excesso de planificação lhes rouba a espontaneidade, a possibilidade de súbitas mudanças de rumo; desvirtua-lhes muito o sabor por espartilhar sem razão, e pode conduzir-nos à perda de experiências únicas. É preciso partir, preparado e conhecedor sim, mas leve de bagagens e imutáveis planos.
As viagens continuam a ser, para mim, um dos melhores temas para as analogias à vida. Tento não espartilhar demasiado a minha, não a formatando com os planos que vejo toda a gente fazer. Não quer dizer que os novos desafios e mudanças de rumo que aceito tomar não me coloquem um frio no estômago, acelerando o coração. Mas penso sempre que, depois de transposta cada nova barreira, outras maiores podem vir que saberei superá-las, construindo-me um pouco mais.
Se pensarmos bem, a vida é um bilhete só de ida em que o "regresso" ao grande desconhecido é a própria viagem. E não posso impedir-me de pensar que, por mais que a tentemos preparar, ela só faz sentido se nos prepararmos a nós mesmos para o mais absoluto imprevisto.

Ana Amorim Dias


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