(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.1.14

Num qualquer mês de 1990

Num qualquer mês de 1990
Baixa de Faro

Ele parou quando a viu. Beijaram-se e ficaram a falar uns minutos, enquanto eu preferi afastar-me um pouco e esperar.
Regressou junto a mim.
- Então? Não vais perguntar quem era?
- Não.
Tínhamos começado a namorar há pouco tempo e eu tinha só quinze anos. Mas creio que já sabia muitas das coisas mais importantes que convém saber.

Hoje, olhando para trás, dou vais valor a esta pequena atitude, que me saiu por instinto, do que a muitos outras que me poderiam parecer bem mais impactantes.
Temo não ser entendida quando digo que as pessoas se "prendem" por dentro. Nunca por fora. Jamais por fora. Aliás, a autoconfiança implícita na atitude segura com que nos conduzimos, dá-nos uma aura que atrai.
Não fazer "filmes", não deixar que a imaginação leve a melhor, dá-nos um tipo de aura que não só é benéfica ao nosso bem estar interior como emana uma segurança que "prende" o nosso/a bem amado/a a nós (isso e muitas outras aptidões, claro está).

A minha relação com o ciúme é talvez demasiado radical e, seguramente, muito incompreendida. Se o ser humano foi abençoado com a capacidade de amar, creio que foi também amaldiçoado, desde o princípio dos tempos, com o horror do ciúme. Recuso-me a render-me a esse instinto primário sem lhe dar a mais dura luta. Sou um ser pensante e racional que sabe dever a si mesmo essa batalha. Se já senti ciúmes? Claro. Mas massacro-os sem piedade com a minha espada interior. Se já fui vítima de ciúmes? Claro. Mas nunca me rendi a pressões. Aliás, tão culpado é quem os tem como quem os admite. E saberá o universo quantas relações magníficas se perderam no flagelo.

Na verdade a equação é bem simples: se estamos dispostos a perder um amor potencialmente perfeito em nome de algo tão estúpido, talvez não o mereçamos. Se não estamos dispostos a perdoar um ou outro "deslize", quem sabe se não estamos a penhorar uma vida feliz?
Bem sei que cada um sabe de si e que este combate é titânico. Mas, na parte que me toca, estou determinada a levar até às últimas instâncias este combate que até nem me é assim tão difícil. Não me permito senti-los nem ser vítima deles por parte de ninguém. Quem quer estar na minha vida, seja de que maneira for, terá que ser suficientemente seguro/a para saber que só me prendem por dentro. Nunca, jamais, por fora.

Ana Amorim Dias

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