(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.1.14

Iogurte de baunilha

Iogurte de baunilha

Eram seis e meia da tarde e eu estava a guiar. Lembro-me de ter pensado que não tinha ainda tema para a crónica de hoje. Fiz a rotunda e pensei: "olha, aqui tens um bom tema para uma das cómicas".
Ao longo das horas seguintes, vários interessantes temas me foram chegando à ideia e eu, ora os apontava por escrito, ora os anotava na mente.
Cheguei à noite com cinco candidatos bastante interessantes. "Ui, vai haver guerra para decidir qual sai primeiro..."

Devia ser uma e tal quando abri o frigorífico. Algum dos devoradores implacáveis da casa tinha exterminado todos os aromáticos de morango. Agarrei outro qualquer (que devo ter comprado sem reparar porque não é, de todo, costume) e levei uma colherada à boca. E, num segundo mágico, enquanto o sabor a baunilha se me desfazia no palato, fundi-me nas páginas do "Olho Ubíquo". "Uau, que sensação mais estranha!" Quantas pessoas se sentirão transportadas para as páginas de um livro, ao sabor de um iogurte?

(...)- Pode ser de baunilha?-
- Desculpa?-
- Avisaste-me para ter iogurtes porque comes sempre um à noite, lembras-te? Pode ser de baunilha?-
- Claro. De baunilha é perfeito.-
Ficamos os dois à mesa, cada um entretido com o seu iogurte, a conversar sem palavras.(...)

Voltei ao iPad e ao musical "Notre Dame de Paris". Era talvez a décima quinta vez que estava a ouvir "Belle". Desde miúda que sou viciada em musicais, como é que desconhecia este? "Oh Lucifer, Oh laisse-moi rien q'une fois, glisser mes doigts dans les cheveux d'Esmeralda". Arrepio total.

A vida devia ser um musical. No mínimo assim de emocionante e tão sentida.
Continuei a saborear com a boca, com os ouvidos, com a alma. "Sim, a imortalidade deve ser isto..."

Ana Amorim Dias

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