(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.1.14

Nós, mulheres

Nós, mulheres


Ela sentou-se quase ao meu colo e abraçou-me com toda a força dos seus braços de menina. Não percebi as razões de todo aquele sincero carinho, mas também não me detive muito a buscá-las. Talvez fossem as duas piscadelas de olho que eu lhe dera, divertida, desde cá do fundo da mesa... Mas, claro, eternizei o ternurento momento.

Horas antes, em casa:
O João gritava como um louco.
"Mas o que é que este miúdo tem? Aos oito anos já não se dão guinchos destes!"
- Podes calar-te?-
- HHHIIIIIIIIIAAAAAAAA!- e dava saltos, também, o magano.
- João, a sério, já chega!-
- IIIIIIIIIIIÓÓÓÓÓÓÓÓÓHHHHHH!!!-
Não percebi o que é que me enfureceu mais, se a continuidade dos guinchos, se a sua desobediência trocista. E, de um segundo para o outro, abandonei a postura de educadora calma e transformei-me numa "Hulka"
descontrolada. O patife percebeu a mudança e correu escada acima. Mas já o fez demasiado tarde porque o apanhei lá em cima, capaz de lhe administrar um par de açoites à antiga.
E foi então que entendi tudo! No momento em que lhe agarrei no braço e lhe virei a cara para a minha, para nos olharmos nos olhos, percebi o que o move! O misto de terror e prazer que o seu olhar emanava, desfez a "Hulka" em que eu me transformara: "Então é isso, ele só me irrita, nestes dias monótonos, por falta de adrenalina!! Ele só precisa de emoção!" Como o compreendi!
- Dás mais um grito e vão-te saltar os dentes!- e vim-me embora, podendo apostar que tipo de sorriso lhe decorava o rosto depois da cinematográfica (e falsa, não fiquem com dúvidas) ameaça.

No dia seguinte:
- Mãe, mostra lá outra vez a fotografia da filha da tua amiga!-
Passei-lhe o telefone com a imagem.
- Como é que ela se chama?-
- Carlota.-
- Hum...- e deixou-se ficar algum tempo, muito calmo e pensativo, a olhar para a fotografia da sorridente Carlota. "Pois, meu menino, esta adrenalina já não te faz estar aos berros, pois não?" pensei enquanto o observava. Quantos olhares compostos de prazer e terror terá ele pela frente? Seja lá como for, de uma coisa estou certa: as mais poderosas potenciadoras das adrenalinas deles somos mesmo nós, as mulheres!

Ana Amorim Dias

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