(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

7.1.14

Conexão humana

Conexão humana
2014

Considero sempre esta uma das mais importantes crónicas do ano. É como se, ao fazer o balanço do ciclo que se encerra e ao dar as boas vindas ao que está a começar, conseguisse produzir uma alquimia potente e de maravilhosos efeitos.

- Estou aí dentro de meia hora!- disse-lhe ao perceber que ele estava na minha terra.
Minutos mais tarde levantou-se, ao ver-me chegar, e abraçámo-nos, como sempre.
Enquanto ouvia as suas histórias, narradas num inglês caricato, e sentia o odor que se lhe desprendia do cachimbo, dei por mim a pensar: "O que é que faz nascer uma amizade assim entre uma escritora portuguesa e um motard alemão duas décadas mais velho? Esta é a quarta vez que nos vimos e temos conversas profundas, faladas com a alma toda numa empatia perfeita!"
- Estava com esperança que este café me inspirasse para a crónica de amanhã, Ralf! Diz lá: que desejos, sonhos, projetos, tens para o ano que vem? Ou então, se preferires, que balanço fazes deste?-
Ajeitou o tabaco no cachimbo e, com um sorriso sábio e enigmático, continuou a história que me estava a contar, parecendo ignorar por completo a minha complexa questão, mas sabendo muito bem que me estava a dar as respostas.

Gosto de sorrisos genuínos e de palavras francas ditas em conversas profundas. Gosto da espontaneidade de quem comenta sem pensar muito. Gosto dos gestos, das peculiaridades e dos paradoxos de cada pessoa que conheço. Gosto das reflexões e amizade com que me brindam todos os que estão ligados a mim, mesmo sem nos conhecermos. Gosto dos velhos amigos que me aceitam tão bem a chegada de todos os novos amigos, sabendo que nem o tempo nem o sentimento se esgotarão jamais para eles.
Gosto de pessoas. E sinto de facto que somos o que de mais belo existe.

No fundo eu já sabia que, hoje, faria um hino à conexão humana. Sabia que o balanço deste ano que termina seria resumido na mensagem: "triunfei de mil maneiras diferentes!" Foi um ano bom, generoso, porque estabeleci incontáveis novas conexões e aprofundei tantas outras. No fundo é isto que todos buscamos, alguns talvez sem saber: estar ligados uns aos outros; estabelecer laços fortes, emocionantes, produtivos, comoventes; conquistar empatias e conhecer-nos melhor no reflexo dos espelhos que os outros são para nós.
Talvez um ano assim, tão repleto de divinos momentos e saborosas conquistas, pudesse deixar saudades. Mas não. Para os trezentos e tal dias que estão mesmo a começar, prevejo novas conexões humanas e mais intensidade naquelas que já estabeleci. Prevejo a continuidade consistente e emocionada da missão que assumi com toda a minha energia: almejar tocar no mais nevrálgico centro de cada um de vós, inspirando-vos a que lutem por chegar a este total encantamento... com os outros e com vós mesmos.

Feliz 2014!

Ana Amorim Dias

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