(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

28.9.13

Indomáveis

Indomáveis

Pensando agora mais friamente no caso, percebo que só não lhe bati por me ter revisto nele.

Cinco da tarde. Lanchou e saiu de casa, avisando que ia andar de bicicleta. Eu fui trabalhar um pouco no computador e acabei por cair num sono leve e, não sei porquê, inquieto.
Despertei quase às sete.
- Tomás, viste o João?-
- Não, mãe, ainda não voltou.-
Saí de casa. Chamei e chamei. Nada. Não estava a pescar na barragem, nem na casa da árvore nem sequer na vazia casa da avó. A bicicleta abandonada nos estábulos. Voltei a chamar. Com o coração aos saltos fui procurá-lo de carro e concluí que na Quinta não estava. Algo me dizia que com a avó também não estaria mas liguei-lhe mesmo assim.
- Estou numa reunião,- disse-me ela - mas ia telefonar-te mesmo agora: ligaram-me agora a dizer que o viram para os lados do Montinho.
Segui para lá a voar.
E lá vinha ele, pelo lado errado da estrada, a ouvir música no (inativo) telemóvel, com um cão rafeiro ao seu lado.
- Em que estavas tu a pensar, João? Não te ocorreu que eu podia estar a morrer de preocupação?-
- Então, apeteceu-me passear e fui ao café do Montinho (são quinze minutos a andar pela estrada) beber um sumo...- respondeu como quem acha que não fez nada de mal.
E eu, que estava demasiado assustada para ser racional, decidi dar-lhe de imediato alguns castigos.

- Percebeste agora, João?-
- Sim, mãe, o meu território por enquanto é só a Quinta...-
Acabei de lhe explicar há dez minutos que no Mundo também há gente má (infelizmente teve que ser) e de lhe fazer ver que compreendo e valorizo a sua grande autonomia e sede de liberdade (de quem a terá herdado?) mas que apenas devemos explorar territórios cujos perigos estamos já preparados para enfrentar.
- Se aos dezoito me disseres que queres ir conhecer o Mundo, eu vou deixar-te ir, filho, mas agora é cedo demais, ainda não é sensato! Eu compreendo essa tua sede de viver, mas tu também tens de tentar compreender a minha preocupação!-
- Pronto, mãe, não saio mais da Quinta sozinho.-

Sei que os genes indomáveis da autonomia e liberdade lhe foram transmitidos por mim, por isso amanhã sem falta vou carregar-lhe o telefone!

Ana Amorim Dias



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