(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

28.9.13

Ver a vida passar

Ver a vida passar

- Merci! - Digo ao músico de rua enquanto lhe ponho dinheiro no chapéu.
Sentada num banco, numa ponte sobre o Sena, delicio-me uns momentos com as músicas dele. Era imperativo agradecer-lhe.
Sigo o meu caminho sozinha, renovadamente encantada com a maravilhosa atmosfera. Devia estar a escrever, a preparar os textos para as reuniões de amanhã, mas tudo o que me ocorre é o que vos quero dizer a vocês. E por isso passeio, completamente sem rumo, tomando aleatoriamente as ruas e condensando em mim emoções e impressões enquanto me vai nascendo a crónica.

- Porque os anos passaram e não os vi passar!...- Dizia-me esta manhã o Eric.
- E já pensaste que se estivesses cheio de atenção, a observá-los a passar, não terias vivido nada? Se calhar é mesmo esse o truque: estarmos tão empenhados em viver intensamente quem nem vemos a vida a passar. Isto soa-me maravilhosamente, se queres que te diga!- respondi-lhe.

Observo as parisienses, impecavelmente arranjadas, e pergunto-me se algum incauto ser me tomaria por uma. Não me parece, sinto-me demasiado selvagem e livre de quaisquer grilhões para poder criar semelhante confusão. E de repente, observando os outros e fazendo o mesmo a mim própria, apercebo-me que, afinal, a viagem da vida pode muito bem conciliar-se com a contemplação da passagem dos anos. De facto isso até a intensifica. Da mesma forma que a música de rua nos traz mais emoção aos passeios.

Ana Amorim Dias


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