(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

1.12.13

Bonecas de porcelana

Bonecas de porcelana

- No outro dia lembrei-me tanto de ti...-
- Então?-
- Passei por acaso numa feira de velharias e vi uma boneca de porcelana que estive mesmo para te comprar.-
- Credo! Que horror! Nunca te atrevas!-
- Porquê, mãe?- quis saber o João, que estava a assistir à conversa.
- Ai vocês não sabem que a vossa mãe tem pavor a bonecas de porcelana?-
Confirmei o facto sem qualquer pudor. Detesto-as a ponto de já as ter posto fora do meu quarto, em casa de uma amiga.

Não sei se isto se prende com algum filme que vi na infância ou com a simples conjugação de nunca ter apreciado bonecas somado ao facto de a sua extrema perfeição me dar um nó nos nervos.
Odeio bonecas de porcelana e nunca escondi o medo que tenho delas. Contudo, ao viver há poucos dias este episódio, compreendi que, no fundo, não lhes tenho qualquer medo: são só coisas, feias e execráveis, é certo, mas apenas e só coisas. Percebi que elas talvez sejam o símbolo de todos os meus receios e que, como tal, tenho que começar a apregoar a mim mesma que sou superior a elas, que as posso anular, superar e até ignorar.
Todos temos as nossas bonecas de porcelana. Todos temos os ícones dos nossos medos. E isso é excelente! Quanto mais não seja porque, ao destruirmos o mito desse irracional receio, estamos também a afirmar-nos como seres capazes de enfrentar qualquer coisa.

Ana Amorim Dias


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