Pressão
Entrei no balcão debaixo de fogo cruzado. Sem qualquer tipo de exagero, estavam uns trinta homens a pedir coisas ao mesmo tempo. Atropelavam-se, aos gritos, sem respeito uns pelos outros nem por quem os estava a servir. Pareciam acreditar que, caso não fossem imediatamente atendidos, as portas do inferno se abririam debaixo das suas pernas, tragando-os para todo o sempre.
"Hummmm, isto está mesmo como eu gosto!" - pensei, esfregando as mãos de contentamento.
- Vai depressa buscar mais leite e copos de "cortado". - Pedi a quem substituí, ao apoderar-me da máquina de café.
De costas para a multidão enlouquecida por falta de cafeína, e enquanto ouvia os sobrepostos pedidos, respirei fundo e comecei.
Não sei quanto tempo demorou a odisseia, mas passei-a com um sorriso trocista colado ao rosto. "Credo! Atropelam-se sem respeito e são todos amigos, o que seria se não fossem!" ; "Bem, se estivesse na selva a ser atacada por leões, a coisa era bem pior" ; "Sim, meu caro, vai chamando por mim até ser a tua vez, antes disso nada feito".
Silenciosa, sorridente e firme, servi "Cortos", "cortados" e "cafés con leche" até se calarem todos. Quando a loucura passou, cedi de novo o lugar. Não gosto de grandes pressões nos meus territórios, nem sobre quem me é querido. Costumo optar por ser eu própria a aguentar o embate dessas mesmas pressões: a verdade é que me divirto imenso a testar até onde as aguento... enquanto vou treinando um pouco mais a resistência.
Ana Amorim Dias
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