O bafo da criação
Está frio em Paris. As folhas forram o chão e os bafos da respiração das gentes desprendem-se das bocas em pequenas nuvens visíveis.
Caminho a passo firme, tentando não me atrasar para os meus compromissos. Desloco-me, contudo, sem querer perder o encantamento com tudo.
Tenho ouvido muitos criadores dizer que o seu combustível mais forte é uma poderosa tristeza; que os seus acessos criativos se ativam muito mais com esse sentimento. Aceito. Porque os compreendo. Mas é ao comparar o meu combustível com o de quem se confessa assim, que me dou conta da minha sorte. O que me move e propulsiona é uma alegria indomável. O que mais me motiva a criação é esta capacidade de tudo olhar como se da primeira vez se tratasse, com a inocência espantada que vê sempre o lado belo, o lado bom.
Está frio em Paris e eu caminho feliz. Vejo os bafos das respirações alheias como um símbolo da capacidade de criação que todos têm em si. E atrevo-me a tentar inspirar os outros, para que se descubram assim: capazes de criar algo novo; capazes de criar na alegria.
Ana Amorim Dias
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