(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

1.12.13

Boémios silêncios

Boémios silêncios

Quando cheguei ao hotel nem conseguia dormir. A tarde e noite tinham sido tão intensamente ricas que, assoberbada pela vivência, demorei quase cinco minutos a conciliar o sono.

O Alexandre e a Sónia receberam o Eric com o entusiasmo natural dos grandes amigos que não se vêem há anos. Comigo foram de uma hospitalidade e carinho tão grandes que muito rapidamente me senti, também, como uma velha amiga. No silêncio campestre da sua mística casa, a magia aconteceu.
Mas deixem-me explicar os motivos de tanto entusiasmo: Alexandre Poussin é escritor. E Sónia é a sua companheira de viagens e aventuras. No início de 2001 começaram uma viagem de três anos e meio na qual percorreram África a pé. E esta foi apenas uma das várias colossais odisseias sobre as quais o Alexandre escreve.

Para quem, como eu, respira a escrever e sente as viagens como uma das maiores riquezas da vida, ter o privilégio de privar com pessoas assim é algo quase inexplicável. Partilhar momentos de boémia intelectual é o pináculo da revitalização artística. Debater métodos, sensações, experiências e emoções com outros escritores repercute-se na forma como encaramos a criação. Constatar uma tal comunhão e tantos pontos em comum com seres tão especiais, fez-me ver em mim coisas que nunca antes tinha constatado.

- Já viram que giro? Somos só três neste carro... E os três escritores!- comentei quando o Alexandre nos levou de volta a Paris.
- Pois é. - responderam.
E depois o silêncio. Um silêncio cúmplice, repleto de sentido. Um daqueles silêncios boémios que antecedem a arte.

Ana Amorim Dias


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