(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

2.6.13

Natureza Morta

Natureza morta

- Olha lá mãe! Está bonito?-
Depois de uma manhã atribulada em que esgrimimos teimosias, o João aproximou-se de mim com uma pintura a lápis de cera.
- Que bonito, João! Uma natureza morta!-
- Não, não, mãe: é uma banana e uma laranja!-
Não sei se o maroto ficou com receio que eu estivesse com o entendimento distorcido ou se apenas se assustou com a analogia pós-apocalíptica daquelas duas palavras.
- Natureza morta é como se chama a este género de pinturas que ilustram coisas inanimadas. Podem ser naturais, como as frutas, legumes e flores, ou podem ser artificiais, como copos, jarros, relógios e coisas dessas, percebes?-
Ele não me pareceu muito interessado. Estava apenas satisfeito com o resultado final e com a sensação boa que sempre se desprende da libertação da criatividade.
Hoje mostrei-lhe de novo a pintura.
- Ainda te lembras o que é uma natureza morta?-
- Sim mãe: pinturas de frutas e repolhos!-
- E se fosses um crítico de arte o que dirias desta? - perguntei-lhe.
- Que o pintor tem muito jeito!-
- E tu Tomás?-
- Eu diria que tanto a laranja como a banana estão bonitas.-
- Não têm nada mais interessante a dizer? É que queria ter mais material para a crónica...-
- Mãe?-
- Diz, meu amor.-
- Eu sou famoso na internet?-
Desmanchei-me a rir.
- Não, querido. Não se pode dizer que sejas. Mas trazes a boa disposição às manhãs de muita gente...-

Ana Amorim Dias

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