(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

2.6.13

Génio mau e figos verdes

Génio mau e figos verdes

Ia falar do mau génio que ontem se apoderou de mim como uma possessão maquiavélica, mas de repente lembrei-me dos figos. Pode até parecer que o meu raciocínio está descomposto mas garanto que no fim tudo fará sentido.

Creio que os fenómenos de aproximação "poltergeist" se dão, de tempos a tempos, com quase toda a gente. Chegam de forma impercetível, pelos mais variados motivos, e fazem-nos considerar seriamente ligar ao padre mais próximo para vir executar um ritual de exorcismo. Um mau génio consistente faz-nos andar carrancudos e falar com um sarcasmo que parece ter voz própria. Torna-se imperativo desativar-nos de alguma maneira, nem que seja a ir dormir.

Há mais de uma semana que, ao chegar à Quinta, páro sempre o carro de baixo da figueira preferida para ver se há figos maduros. É um exercício de paciência complicado de executar, sobretudo por quem é impaciente e gosta tanto de figos. Páro o carro todos os dias junto à figueira com uma atitude de fé e esperança, sabendo perfeitamente que este ano tardarão um pouco mais a amadurecer devido à falta de calor. Mas foi só ontem ao fim do dia que os figos ainda verdes me revelaram um importante ensinamento. Pensando simplesmente no facto, percebi que as pessoas são como os figos: quanto mais calor humano sentem em seu redor, mais doces ficam.

Mas então porque é que passei o dia completamente impossível de aturar? Se o calor humano não me falta porque é que andei tão azeda, a espalhar o terror à minha passagem? Desconfio que, mais do que calor humano, precisamos do nosso próprio calorzinho interior e, quando os dias interiormente frios se instalam, não quer dizer que sejamos pouco doces... pode significar apenas que não soubemos amadurecer para esse dia em concreto.

Ana Amorim Dias

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