(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

20.10.13

Esgrimir o tédio

- Bom dia, meninos!...Buon giorno... E dzień dobry!
Nesta altura começaram logo a bater palmas; ninguém estava à espera de um bom dia em polaco (desculpem mas sou incapaz se dizer "polonês")
Queria transmitir àqueles miúdos, nem que fosse só um bocadinho, a noção da importância da comunicação e o que ela pode fazer por nós.
Atirei-me de cabeça na conquista daquele difícil e mesclado público que me ouvia numa língua não materna.
- Vou-vos contar a história de como me transformei numa super-heroína...- comecei.
Agora que me lembro da cara de alguns, garanto-vos que me farto de rir. Ficaram tão embasbacados que tiveram de decidir depressa se estavam a entender mal ou se eu era apenas uma louca que ali entrara por engano. Mas prendi-lhes a atenção. ...Bem, pelo menos durante um bocado.

Estava no escritório, a imprimir uns documentos e, por obra do acaso, olhei para cima de um armário. E lá estava ele! O meu sabre desaparecido!
Levantei-me de rompante, saí para a rua e, mesmo ali no meio da quinta, perante o olhar estupefacto de algumas pessoas, comecei a esgrimir "em seco" contra inimigos imaginários.

Saí um pouco triste da palestra que, há dias, fui dar àqueles adolescentes: a falta de entusiasmo que lhes senti, por pouco não me contagiava. Como é que se pode ser tão jovem e inocente sem estar absolutamente entusiasmado pela vida? Serão a falta de empenho, energia e entusiasmo, algumas das maiores catástrofes do mundo atual? Fiquei triste, desiludida e preocupada. Estaremos a viver numa sociedade assim tão aborrecida que faz de todos meros recetores de produtos acabados que desconhecem o prazer dos processos criativos?

Passei largos momentos a matar saudades do sabre e a deixar sair, livre, o samurai que há em mi. Super-heroína ou não, sei que assumi o compromisso de esgrimir eternamente contra o invisível tédio... O meu e o alheio!

Ana Amorim Dias


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