Nas asas certas
No outro dia saímos todos de casa atrasados.
- O Ser Humano devia ter asas. Assim éramos mais rápidos e não tínhamos que andar sempre a correr.- comentou o Ricardo enquanto nos precipitavamos pelas escada abaixo.
- Não sejas parvo! O Ser Humano tem as melhores asas de todas as espécies. Eu não trocava as asas interiores pelas exteriores, digo-te já!-
Mais tarde, nesse dia, voltei por acaso a ver o vídeo do silencioso reencontro, no Moma, da artista performativa Marina Abramovic com uma antiga paixão que não via há mais de 30 anos. Comovi-me de novo. E lembrei-me das tais asas.
Não creio que seja apenas a capacidade intelectual da nossa espécie que nos traz toda a vantagem. O que nos faz maiores, melhores, mais rápidos e aptos à evolução, é esta capacidade de nos eternizarmos no amor. Quem ama é imortal. Pelo menos enquanto ama.
Temos asas interiores, capazes de nos levar para fora do nosso corpo em segundos, porque sabemos amar.
Reforço o que disse enquanto, naquela manhã, descia as escadas à pressa: não trocava as asas interiores, que todos temos, por absolutamente nada. Sei que voamos com as asas certas.
Ana Amorim Dias
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