(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.12.13

Adolescência

Adolescência

Eu começava a duvidar da normalidade da nossa relação. Nada pode ser tão absurdamente perfeito o tempo todo. Tive que esperar pelos seus doze anos e meio para ter, finalmente esta manhã, a primeira "pega de caras" com o meu pequeno gigante.
Tinham-me avisado. Tinham-me dito raios e coriscos dessa espécie alienígena que se nos apodera dos filhos durante a adolescência. E eu ria-me, alicerçada na paz com se vive com o Tomás.
Mas deixem-me recapitular os factos:
- Hoje vais vestir esta blusa!- impus-lhe, numa exceção à regra da sua liberdade indumentária. Tinha comprado três, em cores diferentes, giríssimas, claro, e ele nunca as usou.
- Não.-
Normalmente o mau feitio matinal de ambos dissolve-se no calor dos mimos, mas hoje explodimos os dois nesta birra sem sentido.
- Atreves-te a desobedecer-me? Não vás por aí, meu menino!-
- Vá, calma. Não enerves o miúdo, que vai ter teste de matemática agora...- interveio o Ricardo com a doçura habitual.
- Ele vai vestir esta blusa hoje e não há mais conversa!- comecei a subir o tom.
- Não visto!- até fez beicinho, o pobre.
Depois, ao ver a minha autoridade ameaçada e apercebendo-me do enorme perigo do facto, usei de um expediente muito feio...
- Garanto-te que se ela blusa não for usada hoje, o treino de basquete vai para o espaço!!-

Quando nos encontrámos na sala, para tomar o pequeno-almoço, vi que tinha a dita blusa enchouriçada por baixo de uma das suas coloridas sweatshirts desportivas.
- Levas-me ao treino? Tenho a blusa vestida...- uma humildade amuada trespassava-lhe a voz.
- Sim, claro: nunca falho ao prometido.-

Agora estou a sorrir ao lembrar-me da sua capacidade de arranjar soluções diplomáticas. E estou a rir-me de mim. Afinal qual dos dois estará na adolescência? O adolescente dócil e de fácil trato ou a adulta que entrou em pânico ao ver a sua autoridade em perigo?
É demasiado ténue esta linha que separa a parentalidade firme e consciente do despotismo irracional. De hoje em diante tentarei "comprar" apenas as "guerras" que valham realmente a pena. Há que mostrar sempre que, até à independência, há regras a cumprir, mas é preciso também dar espaço suficiente para que os recalcamentos não nasçam.
Acabei de ganhar três blusas giras e, daqui para a frente, ou o deixo escolher a roupa, ou aposto apenas em valores seguros.

Ana Amorim Dias

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