(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.11.13

Do lado do sol

Do lado do sol

O autocarro das oito e meia, para Essaouira, estava cheio. O próximo seria três horas mais tarde. Ainda tentei a minha sorte, esperando que alguém se atrasasse e me deixasse dois lugares vagos, mas foi em vão.
Revi as opções: esperar tantas horas imóvel por algo que posso visitar mais tarde? Ou mudar completamente os planos, ir à estacão de comboios (mesmo ao lado) e apanhar o primeiro trem que saísse, fosse ele para onde fosse?...


- Mas, e Essaouira? Não devíamos ter esperado as três horas? É mais bonito que Casablanca... - começou o Ricardo, um pouco desconsolado, ao entrarmos para o combóio.
- Essaouira não sai do sítio e eu odeio os "devíamos" e os "e ses", por isso vamos acabar já com a conversa!-
- Bruta!-
E tem razão, não deve ser fácil aturar-me... Especialmente depois do que aconteceu a seguir!

Sentámo-nos do lado esquerdo, no sentido da marcha, e o sol batia com força.
- Vamos mudar para o outro lado, que deste bate o sol!- Disse ele.
- Teríamos que mudar de carruagem porque nesta já estão cheios e, além do mais, o sol vai bater é do outro lado!-
- Não! Vai bater é deste!-
- Caramba, Ricardo! Nem pareces um homem do campo! Vamos de Sul para Norte e é de manhã! Temos de ir do lado oeste, que é este!!-
Fez uma espécie de birra e eu resolvi aceder, sabendo de antemão o que se iria passar depois: saímos daquela carruagem, entramos noutra mais à frente e sentámo-nos do lado que ele cismou querer. Resultado: mal começou a viagem ficámos com o sol de "chapa"! Como boa esposa que sou, e perante aquela carinha embirrada, troquei de lugar com ele porque suporto melhor o sol. Sim! Vou ao sol e de costas! Mas o meu sorriso trocista e o gozo com que lhe vou repetindo "que bem que se está à sombra..." compensam absolutamente tudo!

Moral das histórias? Ter que tomar decisões de repente é fácil. Tomá-las acertadamente talvez já não seja assim tanto. Mas respeitando o nosso ritmo e maneira de ser, e usando um pouco a cabeça, dá-me ideia que ficamos com muito pouco a lamentar.

Ana Amorim Dias

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