(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.11.13

Berbere do Sul

Berbere do Sul

Amanheci com a chegada dos dois pestinhas à minha cama. Recuperar a mimalhada de uma semana inteira não é fácil. Quando consegui "libertar-me" daquelas duas cabeças, aninhadas no meu peito, levantei-me e escolhi qualquer coisa para vestir.

- Tu pareces uma Berbere do Sul! - disseram-me várias pessoas, durante a viagem.
- Do Sul? Porquê? - queria eu saber.
- Os do norte são mais clarinhos...-
Encarei a coisa como um delicioso elogio. Conheci bastantes e são de uma humildade, generosidade e capacidade de sobrevivência a toda a prova. Além do mais sou do Sul e tenho uma costela bem nómada.

Calças de ganga e botas altas. Uma blusa bem engomada e uma mala em vez da mochila. Ao descer as escadas comecei a rir: como me posso sentir tão cosmopolita, vivendo no meio do campo?
Abandonei o perfil "indiana", de botas trekking e calças de bolsos aos lados. Deixei de lado a atitude exploradora e a pose militar com que enxotava os árabes todos. E voltei a ser a Ana escritora, cosmopolita apesar de morar nos montes, que leva a vida a colecionar estórias e a respirar paradoxos.

Olhei para os meus filhos quando os deixei na escola: terei feito mais dois berberes do Sul? A verdade é que, do Sul ou do Norte, nómada ou sedentário, qualquer que seja o credo, origem e tom de pele, o que importa é a forma como cada um de nós sabe deixar a marca desta passagem por cá...
E agora, depois de ter lido um pouco sobre a palavra "berbere", não posso deixar de sorrir, completamente encantada: é que eles chamam a si próprios "Imazighen", ou seja, "homens livres"!

Ana Amorim Dias

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