(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.10.13

Fecundar emoções

Fecundar as emoções

- Mãe, põe mais alto...-
Fiquei toda contente. Normalmente sou eu a querer a música aos gritos no carro e são eles a reclamar.
"Mas espera, Ana... O João está a gostar assim tanto da SINFONI DEO dos Era?!..."

Isto aconteceu depois de o ir buscar à porta da escola enquanto caía uma chuvita convicta. Durante os sete minutos que durou a espera, tive vários simpáticos convites para partilhar o abrigo de sombrinhas alheias e tive até direito a uma cara de espanto/incompreensão com uma pitada de piedade (não foi Luísa? :) ).
Acontece que gosto de andar à chuva. E até de estar parada sob ela. Acho uma delícia entregar-me plenamente aos elementos, desde que com alguma segurança e conforto, claro. Até entendo que algumas pessoas temam a chuva como quem teme uma rega de ácido sulfúrico misturada com essência de doninha e veneno de cascavel mas, se a temperatura está amena e nos podemos secar em breve, porque não havemos de nos deixar levar pelo momento?
"Quem anda à chuva, molha-se!" diz a popular sabedoria, esquecendo que a chuva é só água. Está bem, molha, e depois? É tão bom estar molhado (podem interpretar como quiserem que a ideia também é essa).
Regressem lá da gargalhada que isto ainda vai a meio. "Quem anda à chuva, molha-se" faz-me sempre lembrar uma receita de anti-vida: "Não arrisques, não te mexas, olha que vai dar sarilho!", e depois?? Não estamos aqui para experimentar, sentir, errar e aprender com cada molha? Existirá algo mais fecundo que estas metafóricas chuvadas que nos fazem brotar as sementinhas da alma?

- Mãe, põe outra vez a musica de ontem...- Pediu o João ainda agora, enquanto o levava para a escola.
Fiz-lhe a vontade e recordei a sensação que tive ao ouvi-la, há uns anos, depois de uma semana em que poderia ter morrido de três maneiras diferentes. Depois de experimentar um abalo sísmico, uma explosão na cozinha e a queda do teto de um centro comercial mesmo por cima de mim, ouvi esta música e pensei: "Caneco, vou viver tão intensamente esta vida!!"
- Porque é que gostas tanto desta música, filhote?-
- Hum... Não te sei explicar. E tu, mãe?-
- Porque é emocionante... E tu sabes que eu adoro emoções!-
- Sabes? Acho que é por isso que eu também gosto.-

Ana Amorim Dias

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