A tristeza tem razões que a própria razão desconhece
Nem dei por ela a chegar. Veio, sorrateira, e instalou-se descaradamente em mim como se eu fosse a sua casa.
- O que é que tu tens hoje?-
- Sono.- Como podia confessar-lhe uma tristeza que não saberia, depois, como justificar?
Dei voltas e caminhadas pelas ruelas da razão. Procurei por todos os becos, espreitei portas e janelas que nem tenho por hábito abrir...e nada! Não encontrei absolutamente nada que pudesse justificar uma tristeza tão absoluta, invasiva e intensa. Recordei fases passadas em que me empenhava em estar triste; lembrei-me da emocionante intensidade com que já senti a tristeza e a forma como ela me conduziu à arte que me dá o pleno sentido à vida. Encerrará a tristeza, em si mesma, uma das poderosas forças que nos faz avançar?
A certa altura desisti de pensá-la e de a tentar racionalizar. Os sentimentos nem sempre precisam de um atestado justificativo. Basta que os aceitemos em toda a sua imensa plenitude, fazendo dessa intensidade o nosso maior combustível, para que a força nos chegue. E, de repente, a razão conseguiu mostrar-me que até os mais sofridos sentimentos, desde que bem encaminhados, podem fazer de nós invencíveis sobreviventes.
E foi assim, completamente vencida pelo ensinamento que trouxe, que a tristeza me deixou, entregue a melhores sensações.
Ana Amorim Dias
Enviado do Writer
Enviado via iPad
Sem comentários:
Enviar um comentário