Verão de 2036
Numa qualquer praia da Europa...
- Conte-nos como tudo começou.-
- Então... Deixe ver... Começou num centro comercial!-
- Num centro comercial?!?-
- Sim, eu estava a passar e vi a prancha. Ela olhou para mim, eu olhei para ela e meia hora depois estávamos as duas nas ondas. Foi assim que tudo começou.-
- O que sente ao sagrar-se campeã europeia de surf dos super séniores?-
- Bem... Estaria mais feliz com um Nobelzito da literatura... Mas isto também sabe bem.-
De volta à realidade do agora: uma hora no mar com a minha primeira prancha de surf. Já me equilibro deitada e sentada. Já a consigo virar e deslocar para onde quero... Já é alguma coisa. A humildade de aceitar fazer "figuras de urso" é pródiga de ensinamentos e proporciona experiências imperdíveis. O mar tem essa faculdade magnífica de nos "reduzir" à ausência de estatutos. Ali não sou a advogada rebelde, nem a organizadora de eventos mandona. Não sou a escritora impulsiva, a autodidata exigente nem a barmaid de serviço. Não sou mãe nem filha nem mulher. Sou eu, apenas eu, sem mais nada. O mar tem essa faculdade única de nos aumentar até à explosão de ligação ao Universo inteiro e de nos fazer responder à tal questão do "quantos anos terias se não soubesses quantos anos tens?" A resposta, lá no mar, é sempre a mesma: "tenho a idade da alma que habita este corpo salgado... que não sei quantos anos tem!"
Nota: aceitam-se lições de surf nos comentários.
Ana Amorim Dias
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