(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

8.9.13

lado a lado

Lado a lado

"Tens que o tentar entender, Ana! Se fosse ao contrário tu estarias preparada e aceitarias sem qualquer problema, mas sabes perfeitamente que isto lhe vai fazer muito mal! Espera um pouco mais, dá-lhe tempo..."
Ia no carro quando me chamei a mim mesma à razão. Se fosse qualquer outra pessoa a dizê-lo eu manteria o meu rumo e faria prevalecer a minha vontade. Mas como tenho o estranho hábito de me ouvir com atenção, aceitei sentar-me lado a lado comigo, e fazer negócio!

- Sempre que estiveres a negociar com alguém senta-te ao seu lado, nunca à sua frente!- disse-me, há uns meses, um dos meus heróis.
- Porquê?- perguntei-lhe.
- Sabes, Ana? O frente a frente potencia o ego, a oposição; fomenta uma hostilidade que em nada nos favorece. Pelo contrário, se te sentas lado a lado com a outra parte, consegues estabelecer uma sensação de estarem ambos do mesmo lado, desarmas, dás confiança e, com algum tato, baixas-lhe as defesas e a negociação acaba por te ser favorável.-

" Tens que ser paciente. As grandes batalhas não se ganham precipitamente. Não precisas de ir já sozinha de carro até à Croácia. Podes ir daqui a uns meses, dar-lhe mais tempo para se habituar à ideia e aceitar sem se magoar... qual é o stress?" - continuei, lado a lado comigo, em plena negociação.
" Olha que porra! Sabes bem que tenho que me sentir livre! Que tenho que ir embora quando entendo! Que me faz mal começar com cedências!"
" Às vezes és mesmo imatura... Não é perante ele que tens de fazer cedências. É perante ti que tens de estabelecer soluções de compromisso! Queres que ele fique infeliz e amargurado?"
" Não! Claro que não! Mas detesto colocar o bem estar dos outros à frente das minhas asas!!!"
" Vá lá. Trabalha essa tua impaciência, atrasa essa viagem até ele se habituar à ideia e arranja outros planos para agora, há tantas coisas que queres e podes fazer sem criar conflitos..."

- Ricardo?- assim que cheguei à quinta quis comunicar-lhe que tinha estado em negociações comigo.
- O que foi?- o ar um pouco aflito quase me fez rir.
- Lembras-te que em Outubro eu era para ir sozinha de carro até à Croácia?-
Um trejeito carrancudo.
- Pois bem, por essa altura faz uma mala. Vamos embora!-
- Para onde??-
- Não sei, vamos à aventura, logo se decide o destino!-
Abraçou-me com força enquanto me lançava um apaixonado: "Parvalhona!..."
- Mas a outra viagem não foi cancelada, só adiada.- avisei.

Aquilo que realmente queremos raramente nos é trazido de bandeja. A liberdade não se conquista à bruta, nasce também da tentativa de não ferir os outros. E a vida... bem, a vida é uma gaja muito sabida com quem convém negociar sempre lado a lado!

Ana Amorim Dias





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